Como começar uma composição?
Há fundamentalmente dois modos genéricos de dar o
primeiro passo para começar uma composição: encontrar um gesto (ou uma figura,
uma nota, etc.), a partir do qual se procura encontrar deduções e caminhos
possíveis ou o caminho aparentemente contrário que consiste em elaborar um
conjunto de princípios de tipo estrutural – um grupo de notas ainda sem nenhuma
aplicação concreta e definida (uma série, um espectro, uma matriz que fornece
material musical de vários tipos).
Proponho-me aqui abordar estes dois métodos, que podem
ser descritos de outras formas como por exemplo da invenção para a estrutura ou da
estrutura para a invenção. Proponho um conjunto de exercícios práticos a partir
de figuras ou gestos dados; a partir da construção de modelos estruturais
prévios ou herdados tentar avançar para a invenção, através da escrita ou da
invenção de figuras específicas que concretizem as estruturas vazias iniciais.
Em suma, seguir caminhos possíveis nos dois sentidos.
Aqui se assume que a criatividade pode ser vista como
uma dialéctica entre pensamento livre e pensamento estruturado – que são
traduções contemporâneas daquilo que no contraponto do passado se designava, por
exemplo e em casos concretos, como contraponto livre ou contraponto estrito – um
“ir e vir” entre os dois modelos de racionalidade.
Haverá algumas leitura analíticas de partituras de
algumas obras como “análises parciais”, centradas na questão do início da obra,
do seu gesto inicial, ou da concretização em gesto da sua estrutura escondida.
Este tipo de análise não pretende encontrar respostas
para coisas inatingíveis como “a razão de ser” das obras particulares mas sim encontrar
“momentos”, “fulgurâncias”, “pontos que se põem em movimento” (Paul Klee), de
estruturas prévias que se “desdobram” através de múltiplas deduções.
António Pinho Vargas, 2012
António Pinho Vargas, 2012