No artigo de Diogo Ramada Curto levantam-se uma série de questões
importantes relativamente aos atuais critérios de avaliação em vigor no sistema
universitário que representam uma verdadeira perversão das formas de saber.
Escreve o autor: “se é através dos grandes livros que nos podemos
formar, se são eles que devem estar na base de um ensino crítico e vigilante,
como explicar a generalização de uma moda em que só os artigos –escritos ainda
numa língua como o inglês, que se internacionalizou à custa da sua própria
simplificação – parecem contar?“
Esta dominação geocultural (e geopolítica) – que nas músicas atinge
proporções gigantescas – tem uma relação evidente com a dita moda
universitária. Segundo Ramada Curto há uma “tendência para uma hegemonia dos
modelos de comunicação baseados em artigos e em investigações colectivas,
impostos pelas ciências ditas exatas ou de laboratório; uma falsa ideia do que
acontece “lá fora”, num mundo globalizado de matriz anglo-americana; e um
fascínio pelos meios de comunicação e de circulação da informação que potenciam
leituras fragmentadas e descontínuas, em detrimento da consulta aprofundada de obra de fôlego, do
livro, no seu formato mais clássico e em suporte de papel”.
Mais adiante prossegue: “Neste panorama, e por todas as razões
apontadas, será possível pensar na existência de uma cultura dominante,
monopolizada pela prática das universidades e dos centros de investigação que
destruiu a centralidade do livro. Ora, é contra toda esta cultura dominante que
me insurjo.”
Aconselho a leitura deste artigo “O livro: contra a
corrente” (Público, Ípsilon, dia 13 de Julho 2012: 39) que lança alguma luz
mais ampla sobre todo o sistema universitário alargando alguns aspectos que
foram objecto, no campo dos dispositivos de dominação cultural de idêntica
proveniência, no meu livro Música e Poder (Almedina, 2011) no campo musical. Na
verdade, uma das razões de que faz do meu livro um pesado objecto – em todos os
sentidos do termo – resulta deste conjunto de dispositivos que passam pela
tanto pela atual moda universitária - primazia de artigos em inglês - como pela “falsa ideia do que acontece “lá fora”, termo
que usei num capítulo, a partir da sua formulação em Eduardo Lourenço, e
a idêntica atitude e hegemonia no campo cultural em todas as artes. Um dos
problemas desta ideia falsa –porque imaginária – do “lá fora” é que torna a
vida “cá dentro” mais pobre e próxima do infernal.
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