sexta-feira, 13 de julho de 2012

O provincianismo dominado pelos critérios da globalização anglo-americana não atinge apenas a música. A própria Universidade é um bom exemplo.

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No artigo de Diogo Ramada Curto levantam-se uma série de questões importantes relativamente aos atuais critérios de avaliação em vigor no sistema universitário que representam uma verdadeira perversão das formas de saber.
Escreve o autor: “se é através dos grandes livros que nos podemos formar, se são eles que devem estar na base de um ensino crítico e vigilante, como explicar a generalização de uma moda em que só os artigos –escritos ainda numa língua como o inglês, que se internacionalizou à custa da sua própria simplificação – parecem contar?“
Esta dominação geocultural (e geopolítica) – que nas músicas atinge proporções gigantescas – tem uma relação evidente com a dita moda universitária. Segundo Ramada Curto há uma “tendência para uma hegemonia dos modelos de comunicação baseados em artigos e em investigações colectivas, impostos pelas ciências ditas exatas ou de laboratório; uma falsa ideia do que acontece “lá fora”, num mundo globalizado de matriz anglo-americana; e um fascínio pelos meios de comunicação e de circulação da informação que potenciam leituras fragmentadas e descontínuas, em detrimento  da consulta aprofundada de obra de fôlego, do livro, no seu formato mais clássico e em suporte de papel”.
Mais adiante prossegue: “Neste panorama, e por todas as razões apontadas, será possível pensar na existência de uma cultura dominante, monopolizada pela prática das universidades e dos centros de investigação que destruiu a centralidade do livro. Ora, é contra toda esta cultura dominante que me insurjo.”
Aconselho a leitura deste artigo “O livro: contra a corrente” (Público, Ípsilon, dia 13 de Julho 2012: 39) que lança alguma luz mais ampla sobre todo o sistema universitário alargando alguns aspectos que foram objecto, no campo dos dispositivos de dominação cultural de idêntica proveniência, no meu livro Música e Poder (Almedina, 2011) no campo musical. Na verdade, uma das razões de que faz do meu livro um pesado objecto – em todos os sentidos do termo – resulta deste conjunto de dispositivos que passam pela tanto pela atual moda universitária - primazia de artigos em inglês - como pela  “falsa ideia do que acontece “lá fora”, termo que usei num capítulo, a partir da sua formulação em Eduardo Lourenço, e a idêntica atitude e hegemonia no campo cultural em todas as artes. Um dos problemas desta ideia falsa –porque imaginária – do “lá fora” é que torna a vida “cá dentro” mais pobre e próxima do infernal.

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