Morton Feldman:
Algumas frases do artigo Boola Boola de 1967 sobre o ensino da composição nos Estados Unidos nessa época.
[…]
"Se um homem ensina composição numa universidade, como poderá ele não ser compositor? Ele trabalhou duramente, aprendeu o seu ofício. Por isso, é um compositor. Um profissional. Como um médico. Mas existe aquele médico que nos abre, faz exactamente o que tem a fazer, nos fecha - e nós morremos! Ele não conseguiu aproveitar a oportunidade que poderia ter-nos salvo.
A arte é uma operação crucial, perigosa, que realizamos em nós mesmos. A não ser que aproveitemos a oportunidade, nós morremos na arte.
Torna-se cada vez mais óbvio que para estes tipos [these fellows] a musica não é uma arte. É um processo de ensinar professores a ensinar professores [It is a process of teaching teachers to teach teachers] Neste processo é o mais natural que a música do professor não seja diferente da do professor que ele está a ensinar. [In this process it is only natural that the music of the teacher will be no different from that of the teacher he is teaching] A liberdade académica parece ser o conforto de se saber que se é livre para ser académico.
Um pintor que continuadamente acaba pinturas exactamente iguais às de Jackson Pollock estaria rapidamente a caminho do Rockland State Hospital [um equivalente, creio, ao Hospital Júlio de Matos em Lisboa]. Na música nomeiam-no chefe do departamento.
[…]
Morton Feldman (1985) Essays, Beginner Press
Este texto, na sua maravilhosa comicidade, é, no entanto, da maior importância para se perceber a diferença entre o que é a arte - que nos pode matar - e o que é o academismo - que nos permite ganhar a vida.
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