Há uma dominação global da música pop-rock anglo-americana e há uma dominação mais restrita, no campo da música da tradição europeia escrita, dos produtos provenientes dos países centrais. Trata-se de um dado factual do estado do mundo que pode/deve ser analisado e estudado. Mas - e aqui reside uma diferença que nunca deverá ser esquecida - mesmo desses "lugares de enunciação" de onde provêm esses dois tipos de dispositivos sistémicos de dominação cultural, se produziu e se produz muita música maravilhosa, tal como muita música que não o é, como acontece em todo o lado (na minha opinião).
A crítica (sociológica) destas dominações não é, por isso, uma crítica de grandes obras nem de grandes canções, do passado ou do presente. É uma crítica da sua pretensão de exclusividade ou de superioridade. São coisas muito diferentes, são dois planos de análise. Já o referi muitas vezes mas fá-lo-ei as vezes que forem precisas. Uma diz respeito às relações de poder transnacionais na actual fase. Outra coisa será partir deste facto e misturá-lo com julgamentos de valor decretados à partida, a maior parte das vezes ligados a pretenças identitárias, tanto sociais como ideológicas, tanto reais como imaginárias. Tudo o que é decretado à partida - ou seja, algo que é herdado, que está já estabelecido antes de se pensar - pertence à categoria do pre-conceito.
Aliás dispensa mesmo qualquer pensamento porque releva de crenças aceites e sedimentadas como "naturais", como dados da natureza.
Quer se queira quer não o mundo é diverso e muito mais rico do que pode alcançar o nosso ilusório auto-centramento face ao Outro. Julgo que quem não consegue gostar, nem sequer conhecer, o Outro - seja qual for - dificilmente gostará de si próprio. O lema desta atitude será: "o mundo é aquilo que o meu olhar conhece e pode alcançar".
Infelizmente está bem distribuído transversalmente nas nossas sociedades e gera disputas inúteis.
18.4.2014
APV
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