According to Tsenay Serequeberhan, Edward Said observed:
“Imperialism was the theory, colonialism was the practice of changing the uselessly unoccupied territories of the world into useful new versions of the European metropolitan society. Everything in those territories that suggested waste, disorder, uncounted resources, was to be converted into productivity, order, taxable, potentially developed wealth. You get rid of most of the offending human and animal blight […] and you confine the rest to reservations, compounds, native homelands, where you can count, tax, use them profitably, and you built a new society on the vacated place. Thus, was Europe reconstituted abroad, its “multiplication in space” successfully projected and managed. The result was a widely varied group of little Europes scattered throughout Asia, Africa and the Americas, each reflecting the circumstances, the specific instrumentalities of the parent culture, its pioneers, its vanguard settlers. All of them were similar in one major respect –despite the differences, which and that was that their life was carried on with an air of normality.” (1980:78)
Tsenay Serequeberhan continues: “ […] what needs to be noted is that Europe invents, throughout the globe, “administrated replicas of itself and does so in “an air of normality”
A partir desta posição de Said sobre a construção de pequenas europas por parte das potencias coloniais pode-se avançar para uma analogia certamente discutível ou polémica, uma vez que Portugal é um país da Europa e foi uma das potências europeias criadoras de pequenas europas nos seus próprios territórios coloniais.
No entanto, a situação do país na periferia europeia e o facto de historicamente se ter separado da Europa a partir do século XVII no processo de divisão cultural entre a Europa do centro (moderna, protestante) e a Europa “para cá dos Pirenéus” (atrasada, católica) como foi amplamente discutido e problematizado por Eduardo Lourenço e Boaventura de Sousa Santos, permite estabelecer uma tal hipótese e uma tal analogia. Uma hipótese de trabalho será a de que, entre as elites dos países europeus periféricos se terá constituído uma ideologia de emulação, uma idêntica “imaginação do centro”, uma idêntica construção de pequenas europas, em lugares onde esse processo de subalternidade em relação às metrópoles, agora não coloniais no sentido literal, mas coloniais do ponto de vista cultural. Por isso, “metrópoles” culturais, o que se traduziu e se traduz ainda, no campo musical, por uma prática sistemática de “compra” de artistas, de organização de festivais e temporadas, fundamentalmente preenchidas por “artistas do centro” e, ao mesmo tempo e como parte do mesmo processo, uma desconsideração dos artistas locais, vistos e considerados como incapazes de se elevarem ao mesmo estatuto cultural daqueles que se importam. A questão não reside no facto de haver temporadas musicais da chamada "qualidade internacional" mas sim no facto de elas terem como outro lado da moeda uma total incapacidade de negociação intercultural por parte das instituições portuguesas. No import/export cultural o defice é incomensurável e, como nos ensina Frederik Jameson, a questão não é apenas cultural é igualmente económica. Não é? Aqui fica um dado: a indústria cultural dos Estados Unidos está entre as 3 que mais dinheiro fazem entrar no país!
Os topoi que demonstram tal processo nas (poucas) narrativas existentes sobre "história da música portuguesa" - são apenas 3 e duas estão fora do mercadao - são a proliferação dos “introdutores” de estilos, a necessidade de se ter sempre como referência a história da música canónica do centro europeu para se poder dar um mínimo de inteligibilidade à narrativa, face às descontinuidades, a obsessão interna com "as temporadas de nível internacional" – eufemismo corrente para a supremacia prática das importações sistemáticas - e a impossibilidade de criar uma autonomia, uma tradição, uma criação.
Prevalece a construção de “réplicas administrativas”, reflectindo sempre “as específicas instrumentalidades da cultura mãe, os seus pioneiros, os seus vanguardistas localizados”.
António Pinho Vargas, 2008
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