Diz o filósofo Daniel Innerarity em "O Futuro e os seus inimigos" (Teorema, 2011: 42-65): "Não havendo antecipação [das necessidades] a acção política reduz-se a gerir urgências, quando já não há margem de manobra. Como dizia Talleyrand, 'quando é urgente, já é demasiado tarde'. A política entregou-se ao muddling through, no qual mandam os prazos curtos e as soluções provisórias substituem os grandes projectos de configuração de maneira que os mesmos problemas reaparecem sucessivamente na agenda política. A política perde deste modo a sua função de agente configurador e adopta o estatuto de jogador reactivo ou de reparador de avarias." É quase impossível definir melhor o estado actual da política em Portugal e na Europa. E prossegue: "Não é então estranho o fenómeno do desencanto, que reflecte não tanto uma decadência das obrigações cívicas quanto uma certa racionalidade dos eleitores, que desse modo exprimem, com o seu desinteresse, a perda de significado real da política em relação ao curso da história".
Tenhamos em conta o artigo de Rui Tavares no Público de hoje (11-5-2011) que sublinha dois aspectos fundamentais, primeiro que o tecnocrata europeu "toma a economia como algo abstracto, absolutamente extraído do mundo dos cidadãos, das motivações das pessoas comuns" e por isso diz que apenas falta encontrar a solução tecnocrática certa, face ao falhanço sucessivo das propostas 'impecavelmente técnicas' que 'não funcionam. Não tem tracção.' Contra esta visão defende "a externalidade positiva de uma política feita com as preocupações das pessoas em mente, e trazendo o contributo delas desde o início é inestimável".
É justamente o facto de "as soluções técnicas" que têm sido apresentadas pelos tecnocratas da economia, o seu falhanço sucessivamente repetido e o facto de na Europa haver uma clara falta de participação democrática dos cidadãos - a Europa não é uma democracia mas "um clube de democracias" na qual "as obsessões de dois ou três membros mais poderosos levam a melhor sobre os interesses dos outros membros" que conduzem ao fenómeno do desencanto de que fala Innerarity. Este desencanto é uma resposta, "uma certa racionalidade dos eleitores". Estamos perto do núcleo do problema, julgo.
Confesso que estou farto de ouvir há vários anos "soluções técnicas" para os problemas da economia. Quando é que os especialistas e os comentadores (igualmente "especialistas") irão perceber que o problema não é esse, que o problema é de outra ordem que se recusam sistematicamente a considerar? Não admira que essas soluções falhem. E vão continuar a falhar.
No meio disto os artistas continuam a trabalhar no meio das maiores perplexidades, através da uma grande sensação de inutilidade, ou numa cegueira parcial, como única forma de conseguirem prosseguir.
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