A cansada e infinita perplexidade.
Em 2012 e 2013 fizemos manifestações grandiosas e assinámos dezenas de petições. Muitos sindicatos e associações profissionais desfilaram em protestos.
Esperámos quase sem nenhuma expectativa que Cavaco mostrasse que não era totalmente medíocre. Era ainda pior que medíocre e o seu nome ficará gravado a negro para sempre. Nem sequer uma palavra sobre o Tribunal Constitucional e os ataques do governo da direita à qual pertence. Jurou cumprir e não cumpriu.
Assistimos no topo do aparelho de Estado ao seu exemplo e, do exemplo de Portas, vimos a mensagem subliminar transmitida para toda a sociedade de que tudo é possível e que a vergonha não tem medida nem limites. O carácter e os valores são arcaísmos já fora de uso. As consequências do exemplo vindo do topo fazem-se sentir no quotidiano de todas as profissões: "se ele pôde fazer aquilo e nada aconteceu, então também eu posso fazer o mesmo". Do ponto de vista simbólico esse foi um momento tremendo de consequências impossíveis de medir.
Esperámos que os vários partidos de esquerda e os movimentos de cidadãos que surgiram conseguissem produzir um acordo mínimo qualquer. Nem mínimo nem máximo. Nem creio que alguma vez sejam capazes de um tal acordo. É a sua história há muito tempo. A divisão e derrota sobrelevam os poucos momentos de acordos de curtíssima duração e pouca eficácia.
Esperámos que as várias eleições produzissem mudanças na Europa neoliberal. Não produziram. Derrotámos o governo nas duas eleições que ocorreram sem que nada de muito importante ocorresse posteriormente. Cavaco vai manter a desgraça até ao fim, de acordo com a sua vacuidade.
Todas estas expectativas foram sucessivamente frustradas.
Esperámos, depois, que Seguro fosse capaz de perceber as suas próprias limitações, irmão-gémeo de Passos Coelho no percurso carreirista-tipo dentro dos partidos que os corroeu por dentro. Não percebeu e vai arrastar na sua queda coisas ainda impossíveis de prever. Agora que António Costa avançou, verificámos ainda que a mediocridade dos apoiantes de Seguro é ainda pior que Seguro-ele-próprio, a outra face da moeda do pior governo que alguma vez pudemos imaginar como possível.
O mito do país "sociologicamente de esquerda" foi desmentido, penso, pelo outro lado que marca este país em espelho, o lado herdeiro dos filhos de Salazar, herdeiro dos longos anos de ditadura. Esse lado não mudou, esteve lá sempre, secretamente à espera do momento da vingança; a naturalidade das prescrições de banqueiros, das irregularidades nos bancos e nas famílias dos "donos de Portugal" mostra que, para essa gente de património ilustre, a democracia não constitui qualquer problema e vai matando sucessivamente qualquer esperança de justiça. Não há justiça a funcionar. O regular funcionamento das instituições é desmentido todas as semanas por essa e outras vias. A justiça é um dos pilares do estado de direito e não me digam que funciona.
A perplexidade que nos atinge já ultrapassou todos os limites da descrição possível. É por essa razão que Pacheco Pereira repete com frequência a expressão "o primado da lei". A necessidade que sente dessa repetição deriva da acção de um governo sempre no limiar do ilegal, sempre no limiar da expressão plena, e sem disfarces, do desejo de ditadura sem entraves.
Além disso o estado da UE e o estado do mundo revolve-nos as entranhas.
Escrever este texto foi sentido por mim como que um canto do cisne já exausto e moribundo. Perante este estado de coisas, o cansaço que tomou conta de muita boa gente absolutamente farta é plenamente compreensível. É que há limites.
Em 2012 e 2013 fizemos manifestações grandiosas e assinámos dezenas de petições. Muitos sindicatos e associações profissionais desfilaram em protestos.
Esperámos quase sem nenhuma expectativa que Cavaco mostrasse que não era totalmente medíocre. Era ainda pior que medíocre e o seu nome ficará gravado a negro para sempre. Nem sequer uma palavra sobre o Tribunal Constitucional e os ataques do governo da direita à qual pertence. Jurou cumprir e não cumpriu.
Assistimos no topo do aparelho de Estado ao seu exemplo e, do exemplo de Portas, vimos a mensagem subliminar transmitida para toda a sociedade de que tudo é possível e que a vergonha não tem medida nem limites. O carácter e os valores são arcaísmos já fora de uso. As consequências do exemplo vindo do topo fazem-se sentir no quotidiano de todas as profissões: "se ele pôde fazer aquilo e nada aconteceu, então também eu posso fazer o mesmo". Do ponto de vista simbólico esse foi um momento tremendo de consequências impossíveis de medir.
Esperámos que os vários partidos de esquerda e os movimentos de cidadãos que surgiram conseguissem produzir um acordo mínimo qualquer. Nem mínimo nem máximo. Nem creio que alguma vez sejam capazes de um tal acordo. É a sua história há muito tempo. A divisão e derrota sobrelevam os poucos momentos de acordos de curtíssima duração e pouca eficácia.
Esperámos que as várias eleições produzissem mudanças na Europa neoliberal. Não produziram. Derrotámos o governo nas duas eleições que ocorreram sem que nada de muito importante ocorresse posteriormente. Cavaco vai manter a desgraça até ao fim, de acordo com a sua vacuidade.
Todas estas expectativas foram sucessivamente frustradas.
Esperámos, depois, que Seguro fosse capaz de perceber as suas próprias limitações, irmão-gémeo de Passos Coelho no percurso carreirista-tipo dentro dos partidos que os corroeu por dentro. Não percebeu e vai arrastar na sua queda coisas ainda impossíveis de prever. Agora que António Costa avançou, verificámos ainda que a mediocridade dos apoiantes de Seguro é ainda pior que Seguro-ele-próprio, a outra face da moeda do pior governo que alguma vez pudemos imaginar como possível.
O mito do país "sociologicamente de esquerda" foi desmentido, penso, pelo outro lado que marca este país em espelho, o lado herdeiro dos filhos de Salazar, herdeiro dos longos anos de ditadura. Esse lado não mudou, esteve lá sempre, secretamente à espera do momento da vingança; a naturalidade das prescrições de banqueiros, das irregularidades nos bancos e nas famílias dos "donos de Portugal" mostra que, para essa gente de património ilustre, a democracia não constitui qualquer problema e vai matando sucessivamente qualquer esperança de justiça. Não há justiça a funcionar. O regular funcionamento das instituições é desmentido todas as semanas por essa e outras vias. A justiça é um dos pilares do estado de direito e não me digam que funciona.
A perplexidade que nos atinge já ultrapassou todos os limites da descrição possível. É por essa razão que Pacheco Pereira repete com frequência a expressão "o primado da lei". A necessidade que sente dessa repetição deriva da acção de um governo sempre no limiar do ilegal, sempre no limiar da expressão plena, e sem disfarces, do desejo de ditadura sem entraves.
Além disso o estado da UE e o estado do mundo revolve-nos as entranhas.
Escrever este texto foi sentido por mim como que um canto do cisne já exausto e moribundo. Perante este estado de coisas, o cansaço que tomou conta de muita boa gente absolutamente farta é plenamente compreensível. É que há limites.
APV
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