domingo, 9 de agosto de 2015

Boris Groys e o realismo socialista soviético no contexto das artes no século XX dessa fase.

No seu livro Staline oeuvre d'art totale, editado originalmente em alemão em 1988, livro de uma grande importância e enorme rasgo intelectual e histórico, Boris Groys escreve a dado passo:
"As principais fórmulas e métodos do realismo socialista foram elaborados no curso de discussões complexas de um alto nível intelectual. Os participantes nessas discussões pagavam muitas vezes com a vida uma formulação falhada ou inoportuna, o que aumentava ainda mais a sua responasabilidade em relação a cada palavra pronunciada. Quem lê hoje o relato global destas discussões fica impressionado pela relativa proximidade das posições defendidas pelos participantes, que, eles, percebiam-nas como excluindo-se mutuamente. Esta proximidade entre as posições de partida dos vencedores e das suas vítimas leva a considerar com circunspecção as oposições unânimes, ditadas unicamente pelo julgamento moral sobre os acontecimentos.
A viragem para o realismo socialista integra-se na evolução geral da vanguarda europeia nesses anos. Paralelos podem ser estabelecidos com a arte da Itália fascista ou a Alemanha nazi, mas também com o neo-classicismo francês, com a pintura neo-regionalista americana, a prosa inglesa, americana, francesa, desse tempo, conservadora e politicamente empenhada, a arquitectura historizante, o cartaz político ou publicitário, o estilo cinematográfico de Hollywood. O realismo socialista distingue-se antes de tudo pelo radicalismo dos métodos que lhe permitiram implantar-se e pela pureza de um estilo que abarcava todas as esferas da vida social que, em nenhum outro lugar a não ser a Alemanha, não foi posto em prática com uma tal lógica. O período estalinista conseguiu realizar os sonhos da vanguarda ao organizar toda a vida da sociedade segundo as formas artísticas únicas, mesmo se não se tratavam daqueles que desejava a vanguarda."
p.14 da edição francesa, Editions Jacqueline Chambon.

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